Meu Vazio
Celso Naves Esault
Essa manhã acordei vazio. Os raios que entram pela janela cegam meus olhos e seu brilho parece lembrar a luz dos cabelos dela.
Recuso-me a ordenar que meu corpo se levante. O aroma dela, ainda preso à roupa de cama, vale mais que um atraso no trabalho. Não quero me levantar. Não quero viver. Não quero mais obedecer ao maldito tempo sem tê-la como apoio. Sem ter o sorriso vivo dela que, apesar de estar vivo na memória, sem o sopro da vida não vale metade da carga de ânimo que o outro me dava.
Suas roupas estão no armário, este com as portas abertas pelas minhas saudades noturnas. Cada peça uma memória. Cada lembrança um litro de lágrimas. E o gigante robusto e confiante cai de joelhos, implorando pela volta dela.
O coração dói e a cabeça parece querer explodir em minúsculas partículas. O travesseiro, umedecido à noite, volta a ficar molhado. Meus olhos ardem. A respiração falha e eu soluço.
Sem ela não sou nada. Ao lembrar das carícias à noite, dos passeios à tarde e até mesmo do mal humor pelas manhãs, acabo por ceder ao vazio da solidão.
A quero de volta. Peço sua presença ao meu lado. E as memórias continuam. Imploro que me abrace. Ou que a morte venha me buscar.
A silhueta dela aparece na minha mente. Lembranças me invadem. O choro silencia, apesar das lágrimas continuarem. Meus sonhos vêm novamente. A dor para um pouco. E o riso dela poderá ser meu mais uma vez. Ah… Como não queria acordar. Só pra ter esse vazio em meu peito preenchido pela sua imagem que habita apenas no inconsciente.